Em pequenina eu devo ter tido um rasgo de complexo de Édipo, porque o meu pai era a pessoa que eu mais adorava. Apesar de ele trabalhar sempre longe e de só o ver de meses a meses, lembro-me de chorar na cama mais a minha irmã a cantar uma música estúpida que dizia "volta para mim pápá". Do distante que hoje esses episódios me parecem, até me dá vontade de rir deles.
Conforme cresci, comecei a aperceber-me que o meu pai não gostava de estar em casa. Falava torto à minha mãe, chamava-nos nomes, criticava constantemente o meu irmão e eu detestava isso, estava sempre de mau-humor e, no pouco tempo que cá estava, estava sempre com a minha avó - mãe dele - e amigos, e não connosco.
Conforme cresci, comecei a aperceber-me que o meu pai não gostava de estar em casa. Falava torto à minha mãe, chamava-nos nomes, criticava constantemente o meu irmão e eu detestava isso, estava sempre de mau-humor e, no pouco tempo que cá estava, estava sempre com a minha avó - mãe dele - e amigos, e não connosco.
A certa altura comecei a deixar de ter saudades dele, e passei a ver no meu tio o pai que ele não era. O meu tio sempre foi preocupado e atento connosco. Não é meigo nem demonstrativo, mas olha para nós como se fossemos filhos.
Um dia, já crescidos, o meu pai magoou a minha mãe. Magoou-nos mais a nós, porque quem mexe com ela mexe em dobro connosco. Saiu de casa, sem pré-aviso.
O sentimento? Impressionantemente, e embora ache que a minha mãe não sabe, foi de alegria por ele ter ido embora e por tê-la deixado finalmente. Um homem que só é um fardo, bem que pode sair de cima!
Agora somos só nós e ela cá em casa, mais os três gatos. Apesar de algumas dificuldades normais, geradas por um pai que pouco quer saber de nós, somos muito felizes. A minha mãe agora é muito mais bonita, mais cuidada, mais confiante, mais sociável.
O meu pai é simplesmente cada dia menos nosso pai.