Há características nas pessoas que me irritam, chateiam ou enervam por um ou outro motivo. Não gosto de prepotência, de mal-agradecimento, de burrice, de antipatia, de estupidez ao quadrado (às vezes ao cubo). Mas se há pessoas com as quais não consigo conviver sem dizer nada são as pessoas-poucochinho. E passo a explicar em que consiste esta espécie, cada vez mais corrente, de homo sapiens.
As pessoas poucochinho são, tal como o nome indica, aquelas que se contentam com pouco. Preenchem vários tipos.
Algumas são pouco ambiciosas. Vivem mal, são infelizes, mas não fazem nada para mudar. Não se esforçam, não estudam mais, não trabalham mais, não se dão mais valor e acham que como estão, estão bem. Deixam-se estar.
Outras resmungam, resmungam, resmungam, e trabalham, trabalham, trabalham como mulas, e não são devidamente recompensadas. Não se importam, não procuram melhor. Ficam como estão. Deixam-se estar.
Outras ainda queixam-se do/a companheiro/a, que lhes bate até ficarem negras como tissões. Mas também não o deixam, não procuram ajuda, não o denunciam. Quando ele chega a casa, levam novamente na tromba. Deixam-se estar.
Outras não estudam, chumbam de ano repetidamente, e só pensam em ter o nono ano para ir trabalhar. Não pensam que hoje já ninguém arranja emprego sem menos do que o 12º ano. Acham que com elas vai ser diferente, vão fazer rios de dinheiro sem esforço. Deixam-se estar.
Outras não têm companheiro/a e andam à procura de alguém que as faça felizes. Não encontram ninguém que valha a pena, e então andam com este/a ou com aquele/a, só porque sim. E acham que estão bem assim, ou que isso é suficiente. Deixam-se estar.
Eu nunca fui assim. Sempre exigi tudo aquilo a que tenho direito. Posso até nem ser rica, não ter notas brilhantes, não namorar com o Gianecchinni.
Mas trabalho para suportar os mimos e luxos que quero (apesar de não ter necessidade), estudo muito para passar às cadeiras todas na faculdade, e tenho um namorado lindo que me trata bem.
Nunca nos devemos contentar com menos do que aquilo que merecemos. Nem que tenhamos de estar meses ou anos à procura, nem que isso implique esforço. Todo o esforço é recompensado, desde que nós próprios saibamos exigir a recompensa.