Contaram-me que uma rapariga de 18 anos da minha terra tentou suicidar-se esta semana. Enforcou-se com uma corda, mas não morreu. Está neste momento ligada ao ventilador, mais para o lado de lá do que para este. Se sobreviver, sabe-se lá que danos (irreparáveis) no cérebro a tentativa frustrada terá causado! Só está viva porque a irmã chegou a casa e a encontrou naquele estado.
Mas o ponto central da história não é nada disto. O que importa não é mesmo isto, ou então o que a mim me chocou não foi isto, porque infelizmente esta cidade, nos últimos tempos, tem-nos habituado a demasiados suicídios.
Mas o ponto central da história não é nada disto. O que importa não é mesmo isto, ou então o que a mim me chocou não foi isto, porque infelizmente esta cidade, nos últimos tempos, tem-nos habituado a demasiados suicídios.
O ponto central é o móbil, ou motivo. A rapariga de 18 anos tentou suicidar-se porque aquele que era seu namorado terminou o namoro que tinham, dizendo que o fazia "porque estar em cima dela era o mesmo que estar em cima de uma baleia".
E é assim que se deita uma miúda mais frágil ao tapete, é assim que se faz uma miúda de 18 anos - muito provavelmente gorda e complexada, gozada por todos e todas - achar que não vale a pena viver. Poque estar em cima dela é como estar em cima de uma baleia.
As pessoas não medem as palavras e muito menos medem as consequências das suas palavras. Este rapaz não teve com certeza noção de que, com aquelas palavras, magoaria tanto a miúda ao ponto de ela não aguentar mais e querer morrer. Disse aquilo porque é um idiota, porque não pensa mais, porque não sabe mais.
As pessoas falam coisas que não devem, são broncas, são estúpidas, não pensam mais, não sabem mais. Quando se encontram na rua não se coibem do já usual "Estás mais gorda, não estás?", nem do "Estás com tão má cara...", nem do "Ouvi dizer que o teu marido saiu de casa e foi viver com uma espanhola...", nem do "Ouvi dizer que foste demitido.", muito menos do "Lamento muito, ouvi dizer que a tua mãe morreu...". Juro que não compreendo! Qual é o objectivo, qual é o gostinho sádico em dizer coisas destas aos outros?! Porque é que se pára na rua para dizer merdas deste género às pessoas?! Porque as pessoas são desagradáveis, estúpidas, metediças, broncas, insensíveis, porque não pensam mais, porque não sabem mais.
E magoam os outros, magoam repetidamente. Dizem que estás mais gorda; dizem que viram o teu ex com outra ("mas que ela é tão feiinha..." - olha que bom!); dizem - quando estás toda contente a dizer que vais concorrer a um emprego - que não vais conseguir emprego nenhum porque neste país é só cunhas; dizem que o A comentou que eras feia; dizem que o B comentou que tinhas um nariz feio; perguntam-se porque é que tens uma cicatriz; porque é que não tens cabelo; porque é que estás com mal aspecto.
As pessoas dizem coisas más só porque sim. Só porque não pensam mais, só porque não sabem mais. Só porque não são melhores, e porque não sabem que a sensibilidade é uma qualidade muito importante mas muito rara.
6 comentários:
Como tens razão... é mesmo isto.
Texto muito bem redigido :) Sabes o que eu te digo? Existindo as perguntas que tu tão bem enumeraste, temos é de aprender a responder-lhes à altura. "Estou mais gorda? Sinto-me óptima e têm-me elogiado imenso."; "Má cara? Deve ser impressão tua"; "Sim, já estava a fazer por isso há algum tempo, só não arranjei coragem para me despedir. Assim foi muito mais fácil. Tenho outros planos. Sonho mais alto". Responder a onda negativa com uma avalanche de ondas positivas, passar do "Vai-se andando", ao "Estou fenomenal".
Tens toda a razão Mary Jane! Mas a verdade é que quando nos confrontou com perguntas deste género, assim do nada, ficamos tão embasbacados que nem temos resposta. Comigo é assim!
Continuo a chocar-me todos os dias com as coisas que as pessoas dizem umas às outras, com a falta de delicadeza. Enfim!
Se calhar o que o namorado pretendia era forçá-la a fazer uma dieta e não pensou que basta uma pequena faísca para desencadear uma explosão.
Quanto ao resto, penso que é uma questão cultural. Se há quem se sinta mal com o tradicional "estás de luto?", haverá quem fique ofendido pelo contrário. Isto não absolve as más-línguas que sentem prazer em achincalhar a gordinha ou a mal-amada com perguntas e comentários.
A propósito: ainda bem que eu nunca te vi mais gorda eheheh.
Bjs.
AhAhAh Pois não!
Acho que é sobretudo uma questão de sabermos o que devemos ou não dizer, isso sim. Afinal, para que raio se pergunta a alguém se está mais gordo? Se está, paciência!
Nem mais!
Texto pertinente e objectivo.
Não é preciso acrescentar mais nada.
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