quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Os pseudo-intelectuais


Os pseudo-intelectuais são aquelas pessoas, e na blogosfera há muitas, que acham que parecem mais inteligentes se disserem que lêem os livros dos prémios Nobel, que vão a peças de teatro daquelas que ninguém entende, que adoram música jazz, que adoram passar horas sentadas na praia a olhar o horizonte e a meditar, que acham que quem lê a revista Maria é estúpido e ignorante. Tenho uma pessoa algo chegada que diz que uma altura disse à ex-mulher para "[deixar de ser] uma estúpida e burra, [parar] de ler a revista Maria e a TVGuia e [pegar] num livrinho de jeito, para deixar de ser tão burra!". Quando ouvi aquilo fiquei perplexa, porque a ideia é a seguinte:

Eu sou uma pessoa inteligente. Sou e digo que sou, não sendo de modo algum prepotência da minha parte.
Não vou ao teatro porque o teatro português me irrita um bocado, acho sempre aquilo muito forçado mas as opiniões são como os cus, cada um tem a sua.
Não leio muitos livros sem ser aqueles que estão relacionados com Direito. Não tenho lido muitos outros simplesmente porque não tenho tempo e porque, quando se passa 4 anos constantemente a ler por obrigação coisas mais ou menos chatas, precisa de se dar um bocado de descanso à cabeça nas horas vagas.
Leio revistas cor-de-rosa. Paro nos quiosques e leio as capas e, de vez em quando, compro uma ou outra. Leio-as porque as acho divertidas, e leio-as porque a cultura não está só no prémio Nobel, mas no mundo inteiro.
Ouço todo o tipo de música, desde a rock à pop, desde a jazz ao hip-hop. Não acho que quem ouve metal ou heavy metal seja estúpido ou pouco instruído, acho que é só uma questão de gosto. Não acho que o pop seja foleiro, e sempre o acho mais divertido do que um saxofone.
Não tenho paciência para estar num banco de jardim horas a fio a contemplar o mundo e a meditar sobre uma imensidão de coisas. Às vezes, quando o faço, medito acerca da fauna que vai passando e seus trajes ridículos, mas é só isso.
Não estou propriamente interessada em história mundial ou física quântica, mas interesso-me imenso por animais, roupa e pessoas.
Não sei quem foi o 3º rei de Portugal, nem o 4º nem o 5º, não sei a ordem das dinastias, mas sei qual a moldura penal para um homicídio e sei qual a diferença entre Direito e Advocacia.
Não gosto que me digam para começar a ler coisas mais interessantes do que Nicholas Sparks ou Paulo Coelho, porque se eu gosto dos dois, leio. Antes isso do que ler nada, ou ler livros chatos só para dizer que se leu.
Não gosto que aquando da morte do Saramago toda a gente tenha dito que perdeu o seu autor preferido, quando 90% dos portugueses nunca deve ter lido nada da autoria do senhor. Eu inclusive, porque ler umas páginas não conta (devia ir na 20 ou 30 quando me cansei).

Gosto que as pessoas não se armem em carapaus de corrida e não pensem que lhes fica melhor falar de temas que desconhecem só para parecer bem, só para parecerem mais cultas. Isso porque mais vale falar de malas e conhecer o mundo de que se fala, mais vale falar de vernizes e saber avaliar quais os bons ou maus, mais vale discutir uma receita de culinária que efectivamente já se experimentou, do que se porem a falar de um livro que nunca leram mas do qual já ouviram falar e parecerem estúpidas e, aí sim, verdadeiramente ignorantes.

5 comentários:

Anónimo disse...

Cá eu odeio música jazz ahahahah

Anónimo disse...

As opiniões são como os cus eheheh.
Como uma diferença: eu prefiro ouvir uma má opinião do que um bom cu.
Loool

MissGummyBear disse...

E este entrou directame nte para a lista dos meus posts favoritos :D

Ana Sousa disse...

Por isso se chamam "pseudo-intelectuais" ou "pessoas com a mania". A inteligência não se vê necessariamente pelos gostos ou grau de escolaridade. Eu tenho para mim que uma pessoa realmente inteligente é a que sabe respeitar os gostos do outros* e consegue fazer piadas com os seus próprios gostos.

Só não concordo com a parte de não se saber as dinastias. Isso é matéria da Escola Primária logo é conhecimento "básico". É como não se saber a tabuada. As pessoas de idade, que praticamente não frequentaram a escola, sabem isso não há desculpa para os jovens não o saberem. Não é comparável ao conhecimento específico que se adquire numa licenciatura ou área profissional.

* Salvo raríssima excepção de algumas coisas que são traumatizantes para o público em geral.

Caixa disse...

Ana, eu não sei, apesar de ser básico! Sei muito bem a tabuada mas de história nunca fui fã. Não me lembro disso, porque simplesmente também nunca mais me interessei por coisas desse género. E como as dinastias e afins foram dadas até ao 9º ano, já lá vão uns 8 ou 9 anos e não me lembro! Quer dizer, lembro vagamente, mas não totalmente e não tenho problema nenhum em dizê-lo. Mas, por exemplo, eu considero também básico saber conjugar em condições todos os verbos, ou saber os superlativos das palavras, e a maior parte das pessoas não as sabe! E também é básico. :)

Enfim, isto é mesmo assim... cada um sabe de umas coisas, e outros doutras.